Bateu à porta

                      Sem ser convidado

Já veio logo entrando

                      Sem ser bem-vindo

Já foi logo se instalando

                                      Visitante mais do que indesejado 

                                                   é o vazio

                                      Espero que logo vá embora

                                               Sem muita demora

                                                                                    

                                                                                   Já não há muito o que levar de mim

                                                                                   Das outras vezes já levou o bastante

                                                                                    Ainda estou a me recuperar 

Então, só peço que vá

                                    E que não volte mais

                                                                                                                           (Paula Dentini 18/08/2020)

Ah dessas cores que se espalham pelo teu braço

que me envolvem em um abraço 

forte, sem pressa para acabar

em dedos que buscam

me molhar!

Ah dessas cores que se adentram 

em meu corpo

e me regam 

de prazer!

E de todas essas cores em teu corpo 

é a cor azul 

que transpassa

o que há de mais íntimo no meu ser!

(Paula Dentini - 27/07/2020)

Medo da morte

O que é o medo da morte?

por que o pensar na minha não existência 

me gera uma angústia inexplicável? 

Há quem diga que é sorte

quando deixamos de existir

sem nenhuma dor sentir 

Mas seria isso possível? 

Não posso pensá-la [a morte] como um ato

isolado

resumi-la 

a apenas um momento

de toda uma vida

e viver dói 

porque

sorrimos, mas também choramos

ganhamos, mas também perdemos 

nos entusiasmamos, mas também nos frustramos

 a morte não pode ser dissociada

da dor

O que mais teme

quem a morte teme?

teme a própria vida?

teme encarar os desejos profundos de sua essência?

ou teme não realizá-los?

Me preocupar em demasiado

com um evento que fatalmente

irá acontecer

sem hora marcada

sem lugar definido

sem nenhuma companhia

me parece bobagem

me parece perda de tempo 

Mas  só de pensar nela

 meus pés ficam molhados 

minhas mãos frias

meus batimentos acelerados

minha respiração ofegante 

(logo eu que pensava que pensar sobre isso é bobagem)

Estaria o medo da morte 

associado ao trauma do nascer?

pois desse fato não tenho memória

apenas o que contam sobre minha história

ao nascer, chorei

logo no primeiro suspiro

passei a existir 

sem mais, nem menos

passei a fazer parte de um mundo

tal como o conheço

E será que morrer

 é como deixar de existir

e sem mais, nem menos 

 nascer em um mundo

tal como o desconheço?

(Paula Dentini - 27/07/2020)

Meu bem, dedico-te esse poema

mesmo com versos sem rima

e por que precisariam ter?  

Qual o sentido das palavras

quando não são vividas?

Qual o sentido da própria existência

se não ser?

sei,
que é difícil sentimentos

em palavras converter

ainda mais

quando sentimos demais 

sem nem ao menos tudo compreender

sei, 

que é difícil fazer-se entender

apenas com gestos

mesmo que honestos

o que se tem para dizer

mas tem coisas que não precisam de palavras

de rimas, melodias ou poesias

para existir  

basta sentir 

basta se deixar envolver
e o que for verdadeiro

só tempo irá dizer 

(Paula Dentini)
06.04.2020

Oh meu bem, 

quando penso em você

eu sorrio

como um rio 

com água transparente

que corre para o mar

assim como a gente 

que corre para se abraçar 

E quando foi a última vez que nos falamos? 

Nem me lembro mais 

Na verdade, até me pergunto se realmente nos amamos 

ou se apenas nos enganamos

Se eu e tu não somos nós

então o que somos?

Será que algum dia já fomos?

Mas como gostei de ti

como ainda gosto

com gosto 

de que ainda gostarei

Mas será que ainda há lugar para mim

 em teus pensamentos?

(Paula Dentini)

11.03.2020

O que tens, mulher?

Desde o primeiro dia em que te vi

nunca mais me esqueci 

desse teu rosto.

Perfeição.

O que fizeste, mulher?

Que encanto é esse que me faz te desejar?

Que encanto é esse que me faz te querer?

Cada vez mais

Te procuro em meio à multidão

Sem nem saber o porquê

Sorrio quando te vejo

E sinto meu peito prestes a explodir

Sem nem saber o porquê

Coro

Sem nem saber o porquê

Corro

Quando te vejo

E quando nossos olhares se cruzam

O que é que tu sentes, mulher?

(Paula Dentini)

11.03.2020